20 de outubro de 2009

O religiosismo saloio

José Saramago não terá todo o direito a exprimir a sua opinião? Afinal, é sobre esse tema que fala o seu livro. Então porque não haveria de falar sobre ele?
As reações contra Saramago fazem-me lembrar a dos talibãs às caricaturas de Maomé, e a de um tal Mário David à fúria muçulmana contra os "Versículos Satânicos" pretendendo uma nova fatwa contra Saramago.
Era eu miúdo, tinha talvez entre dez e doze anos e fiquei chocado ao ler na biblia o episódio em que Deus disse a Abrãao que para ele provar que acreditava em Deus teria de sacrificar o seu filho Isaac. Segundos antes do sacrifício de morte aparece um anjo que lhe diz que afinal era tudo uma “brincadeira”. Se deus era omnipotente, omnipresente, omnisapiente e omnisciente tinha o poder suficiente para saber se Abrãao era ou não fiel à crença... Seria preciso deus fazer isso tudo com uma criança inocente só para provar a fé do Abraão? Por que fazer a criança passar por uma tortura dessas? Isso é coisa que se faça com uma criança? Devo ter-me imaginado no lugar de Isaac e ficado muito assustado. Acho que foi o primeiro livro de terror que li. Só depois descobri Edgar Allan Poe por sinal bastante mais "soft". Quanto ao episódio da biblia se fosse hoje imaginaria deus a aparecer ao Abraão e a dizer: Sorria para a camara você está nos Apanhados. Então alguém denunciaria Abraão e esperariam que a Comissão de Protecção de Menores lhe retirasse a guarda de Isacc.
Eu sei que a bíblia foi escrita faz muito tempo e o contexto nessa altura era diferente. O problema é que as Religiões ainda hoje se guiam por este livro, que, para mim é também um manual de maus costumes. Muitos são os actos aberrantes da Igreja Católica que tiveram por base este livro - As Cruzadas, a Inquisição, as conquistas de territórios e a acção dita missionária (a tortura sempre foi um instrumento de conversão religioso!) assim como o apoio do Vaticano ao regime Nazi que exterminou inúmeros Judeus.
Cada vez mais me convenço da inutilidade das religiões (de todas) pois estão na génese de quase todas as guerras e de matanças em massa de que a humanidade só se pode envergonhar.
Esta reacção contra Saramago acontece da parte de uma instituição que é inflexível, preconceituosa, intolerante, radical, condicionadora do pensamento livre, punitiva e fundamentalista. Com as religiões funciona apenas a máxima “quem não é por nós é contra nós”.
Para terminar como disse alguém - sou ateu, graças a deus. zct
Nota: imagem The Sacrifice of Isaac de Cigoli c. 1607, Galeria Palatina (Palacio Pitti), Florença.

17 de outubro de 2009

Problema de Design

Alguém (Engº ou Arqto) não previu que a conjugação dos desenhos do muro com o ângulo do sol a uma determinada hora do dia ia dar esta sombra. zct

12 de outubro de 2009

A reporter estrábica

Tinha acabado de saber pelo telejornal que tanto o PS como o PSD tinham ganho as eleições autárquicas quando recebo um email cheio de queixas contra uma brasileira que supostamente insultou o povo português numa emissão do canal GNT. Tive muita dificuldade em decifrar esse texto do email que parece ter sido escrito por um brasileiro que não gosta dessa Proença. Não conheço essa tal Maité Proença. Não sei se é actriz de telenovelas porque não vejo. Não sei se é actriz de cinema porque também não vejo muito cinema brasileiro. Não sei se é artista de varão pois não frequento casas de striptease nem de alterne. Se é escritora não sabia que o era e também não consta da minha lista de prioridades de leitura. Lá fui ao YouTube ver o vídeo. Afinal quem chamou mar ao Tejo foi o operador de câmara, Daniel que é brasileiro e ela fez a devida emenda dizendo que se tratava do rio Tejo. A dita fulana pensa que o Salazar além de ditador era também escultor. Mas na verdade não era. Não foi ele que "fez" o monumento. O Padrão dos Descobrimentos foi inicialmente concebido para a Exposição do Mundo Português de 1940 e foi projectado pela parceria Cottinelli Telmo (arquitecto-chefe da Exposição) e Leopoldo de Almeida (escultor que fez também a escultura de Ramalho Ortigão, que está no Jardim da Cordoaria no Porto). O Monumento actual é uma réplica do da exposição de 1940 e foi executado pela empresa José Raimundo (que ainda hoje existe: http://www.jraimundo.com/) e foi inaugurado em 1960 para comemorar os 500 anos da morte do Infante D. Henrique. Era Salazar que estava no poder na altura por sua alta recreação. Se no poder estivesse outro fosse ele monárquico ou Republicano provavelmente seria feito na mesma, pois era importante assinalar esses cinco séculos. A fulana ficou admirada de no século vinte e um num concurso da RTP1 o ditador ter sido escolhido pelos telespectadores como o «melhor português de sempre». Eu também fiquei espantado e fiquei a saber que vivo num país onde pululam parvos e ignorantes que acham o ditador superior ao Infante D. Henrique, Fernando Pessoa, Marquês de Pombal, Vasco da Gama, Afonso Henriques, Luís de Camões ou Aristides de Sousa Mendes e a muitos outros. Não me pareceu que ela tivesse denegrido o Manuelino mesmo depois de rever atentamente a peça umas cinco vezes. Quando à questão técnica relacionada com o computador a pobre da ignorante nem sequer se tinha apercebido de que afinal tinha enviado o tal email a dizer que não conseguia enviar o email como refere a pivot do programa no final. Acho que os responsáveis do hotel não deviam ter gozado com a infoexcluida enviando-lhe primeiro um paquete e depois um porteiro. Acho que os utentes dum hotel de cinco estrelas devem ser tratados com respeito mesmo que sejam bordalengos. No final a rapariga dá uma cuspidela no lago. Não estava a denegrir os portugueses pois estes costumam é cuspir para o chão. Se queria fazer um video poderia ter usado mais a imaginação. Não vi nada tão ofensivo como me fizeram crer e o meu orgulho não foi ferido. Afinal fazem de tudo um grande problema. Pelo que me toca está perdoada. zct